Edifício na Bartolomeu Dias
Lisboa, Portugal
2016 – 2019
2016 – 2019
Este é um projecto em contra-corrente com um tempo onde a cidade tem sido gradualmente esvaziada dos seus habitantes por pressão do turismo e da especulação imobiliária. É um projecto de resistência, que parte do desejo de uma família em manter-se no seu bairro, no local onde estabeleceu as suas relações de proximidade. Este desejo de permanência no bairro, guiou também a forma como foi estabelecido o projecto.
Um lote de pequena dimensão tem que responder às necessidades programáticas actuais, mantendo-se a integração do edifício no contexto urbano, a cidade e a rua em que se insere. A intervenção resultante tem, portanto, uma presença relativamente anónima, e só a um olhar mais atento se revela a sobreposição, da ampliação sobre o edifício original.
Ao longo da cidade existem ainda pequenos lotes, com construção relativamente modesta de tipologia uni ou plurifamiliar e que pela sua pequena dimensão estão menos sujeitos à pressão imobiliária, podendo assim ser o palco para operações como esta. A adaptação destas estruturas às necessidades actuais – conforto, resistência, segurança – exige invenção e tolerância programática, exige dos proprietários abertura a soluções não convencionais na forma de habitar.
Assim, este é um edifício exemplificativo de como a iniciativa privada ao resolver as suas necessidades próprias de habitação, pode representar um importante contributo para uma reabilitação urbana que mantenha a cidade com a sua pluralidade e identidade, mantendo um equilíbrio com as grandes operações urbanísticas, necessariamente mais cegas ao contexto social em que se inserem.
Um edifício, de construção modesta, devoluto, que foi adquirido por uma família com a intenção de fazer aqui a sua nova casa.
A fachada principal dá para a Rua Bartolomeu Dias, um importante eixo, paralelo à frente ribeirinha, que nasce em Alcântara e atravessa a monumental zona de Belém, terminando na Rua de Pedrouços. É uma rua movimentada de uso maioritariamente habitacional, com alguma ocupação de serviços e comércio ao nível térreo. Atrás, encontra-se o Beco da Ré, uma ruela estreita, com edifícios de traçado irregular e uma utilização apenas pedonal. Pelo seu carácter de maior privacidade, os habitantes apropriam-se da rua, com cadeiras e roupa a secar, fazendo lembrar o ambiente próprio das aldeias. Destaca-se assim a diferença de escala e vivências entre a fachada principal e tardoz, identificando-se como um aspecto singular para o desenvolvimento do projecto.
Com uma área de lote de 60 m2, o imóvel de 2 pisos, encontra-se em avançado estado de degradação, sendo inevitável a demolição integral do seu interior. Em resposta ao programa pedido, de conversão numa habitação permanente para um agregado familiar de 5 pessoas, tornou-se vital a ampliação para mais 2 pisos, alinhando com a altura de edificado predominante na envolvente. Com o projecto, opta-se por evidenciar o contraste entre a ampliação e o edifício original. Os dois novos pisos adoptam uma expressão arquitectónica contemporânea, própria de técnicas construtivas actuais, que entra em diálogo com a fachada existente. Assume-se assim, que a obra actual é realizada num tempo distinto do edifício original, e que na sua diferença se funda a identidade do novo edifício.
Na organização interior, a distribuição dos espaços é disposta do nível privado para o público, esta inversão é motivada pela vontade de atribuir aos espaços sociais a zona mais alta e com melhor vista sobre o rio Tejo e a cidade. Privilegia-se as áreas de estar, de natureza convivial e familiar, em detrimento dos quartos que têm um uso mais pontual. Assim, os quartos organizam-se nos dois primeiros pisos, encontrando-se as zonas sociais nos últimos três pisos. Desta forma, no percurso interior, a partir da entrada, os espaços começam por ser muito compartimentados, e progressivamente vão-se tornando mais amplos e abertos, culminando no terraço exterior, orientado a sul, inserido na cobertura de duas águas.
Neste percurso também é crescente, de piso para piso, a relação com a luz de sul e vista para o rio. A disposição da escada, ao longo dos vários pisos, vai sendo alterada de acordo com a organização dos espaços e respectivas características, estabelecendo-se relações visuais de duplo ou triplo pé direito com os diferentes pisos.
Na fachada principal é reabilitado o azulejo da fachada existente e mantém-se o verde “de Lisboa” para as portas e grelha ao nível do rés-do-chão. Os novos vãos, do piso 3, são desenhados de acordo com o alinhamento com os vãos existentes. A tardoz é criada uma nova composição de vãos, que gradualmente aumentam o seu tamanho, obtendo-se uma relação mais franca com o exterior nos pisos superiores. A varanda projectada e a janela baptizada de “olho verde”, em Pedra Verde Viana, como excepção numa fachada em que predomina a regularidade, a simetria e o diálogo com a envolvente.
Projecto Edificio na Bartolomeu Dias
Localização Lisboa, Portugal
Cliente Privado
Programa Reconstrução de edifício
Área 229 m2
Fase de projecto actual Construído
Data 2016–2019
Autoria Aurora Arquitectos
Equipa de arquitectura Sérgio Antunes, Sofia Reis Couto, Carolina Rocha, Bruno Pereira, Tânia Sousa, Rui Baltazar, Dora Jerbic
Fiscalização Gesconsult
Projectos e Especialidades Zilva, Global, LDA
Construção Mestre Avelino
Reportagem fotográfica do mal o menos