Um projecto de resistência, que parte do desejo de uma família em manter-se no seu bairro, o local onde estabeleceu as suas relações de proximidade. Em contra-corrente com o esvaziamento gradual dos habitantes, da cidade, por pressão do turismo e da especulação imobiliária.
Um lote de 60 m2, ocupado por uma construção modesta, de 2 pisos, em avançado estado de degradação, tem de responder às necessidades programáticas de uma família de 5 pessoas. Exige invenção e abertura dos proprietários para soluções não convencionais na forma de habitar.
A fachada principal dá para a Rua Bartolomeu Dias, um importante eixo, paralelo à frente ribeirinha, que nasce em Alcântara e atravessa a monumental zona de Belém, terminando na Rua de Pedrouços. Atrás, encontra-se o Beco da Ré, com edifícios de traçado irregular e utilização apenas pedonal. A diferença de escala e vivências entre a fachada principal e tardoz, identifica-se como um aspecto singular para o desenvolvimento do projecto.
Partindo do edifício original, cria-se uma ampliação de mais 2 pisos, alinhando com a altura de edificado em redor. Evidencia-se o contraste da intervenção actual, com uma expressão arquitectónica contemporânea em diálogo com a fachada existente.
Na organização interior inverte-se o que seria a lógica habitual. A entrada tem ligação aos dois primeiros pisos que acolhem os quartos, aproveitando-se a vista para o rio e, sobretudo, a luz de Sul, dos últimos pisos, para os espaços comuns e familiares. A escada adapta-se a esta organização com relações visuais de duplo ou triplo pé direito entre os diferentes pisos, terminando no terraço exterior inserido na cobertura.
Reabilita-se o azulejo da fachada original e segue-se o alinhamento dos vãos existentes para desenhar os vãos do novo piso. A nova fachada a tardoz, de grande regularidade e simetria, é marcada por dois elementos de excepção: uma varanda projectada e a janela baptizada de “olho verde”, em Pedra Verde Viana.